Excesso de peso afeta a formação e a qualidade dos espermatozoides
Por Aline de Cássia Azevedo*
Nos últimos dez anos, tem se falado muito sobre o fato de a obesidade materna estar associada à alteração dos óvulos que, consequentemente, prejudica o desenvolvimento embrionário, reduzindo as chances de gravidez após um tratamento de fertilização in vitro.
A novidade agora é em relação aos efeitos negativos gerados pela obesidade masculina, que impactam no desenvolvimento embrionário e nas taxas de gravidez. Há muitas evidências de que a obesidade no homem implica igualmente na redução da fertilidade e no progresso embrionário saudável.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma pessoa pode ser considerada magra quando o seu IMC (Índice de Massa Corporal) — peso dividido pela altura ao quadrado — for inferior a 18. Se ela apresentar um índice entre 18 e 25, o peso é normal; de 25,1 a 30, há sobrepeso; e o indivíduo é obeso quando o resultado supera 30.
No homem de peso normal, existe um estímulo normal dos testículos por hormônios vindos da hipófise (chamados de LH e FSH), que induzem a produção da testosterona (hormônio masculino), bem como estimulam o amadurecimento das células que irão se transformar em espermatozoides. Para haver fecundidade masculina, é preciso que o número de espermatozoides a cada ejaculação atinja valores ideais como: concentração maior ou igual a 15 milhões/mL e 40 milhões no ejaculado total; motilidade progressiva maior ou igual a 32% e morfologia pelo método de Kruger maior ou igual a 4%.
A testosterona também tem a função de promover a formação dos espermatozoides, processo chamado de espermatogênese, além de manter intacta a libido (desejo sexual) e o mecanismo de ereção. No entanto, em condições normais, uma pequena porção da testosterona é transformada em hormônio feminino (estradiol). Tal fenômeno é realizado por uma enzima chamada aromatase. Quando o homem chega a um peso muito acima do normal, de mais de 150 quilos, com IMC maior do que 40 Kg/m², elevam-se os níveis desta enzima aromatase e, consequentemente, uma maior quantidade de testosterona é transformada em estradiol (hormônio feminino). E, assim, o excesso de estradiol irá bloquear a hipófise, diminuindo os estímulos para o testículo produzir testosterona e espermatozoides. É válido ressaltar que esse excesso de hormônio feminino (estradiol) pode induzir o aumento de mamas no homem, reduzir a libido, causar disfunção erétil e a infertilidade.
Pesquisas também comprovam que homens acima do peso possuem um índice maior de fragmentação do DNA do espermatozoide, o que gera falhas na fertilização. A integridade do DNA espermático é importante para o sucesso da fertilização e para o desenvolvimento embrionário normal.
Sobrepeso x qualidade seminal
Um dos mais expressivos estudos já realizados sobre a influência da obesidade masculina na fertilidade, no fim de 2010, por pesquisadores franceses, com 1.940 homens, constatou que quanto maior o sobrepeso, menor a qualidade do sêmen, principalmente quanto à concentração que pode ser 10% menor nos pacientes com sobrepeso e chegar a 20% menos nos obesos, e a motilidade dos espermatozoides destes cai 10%.
Nessa pesquisa, foram avaliados o volume do sêmen, seu pH, a concentração de espermatozoides por mililitro de sêmen, a motilidade, vitalidade, taxa de formatos atípicos e outros dados. Todos esses fatores foram relacionados com o IMC de cada um dos voluntários.
O número de homens que sofre de uma ausência total de espermatozoides (azoospermia) representa 1% quando o peso é normal, mas aumenta para 3,8% entre os obesos. De acordo com os cientistas, isso acontece devido a desordens hormonais causadas pelo sobrepeso, que dificultam a fabricação de novos espermatozoides saudáveis. Há, no entanto, um elemento reconfortante: 300 pacientes conseguiram voltar a ter um sêmen saudável ao emagrecer.
Temperatura testicular
Outro efeito colateral da obesidade, que potencialmente contribui para os parâmetros e produção de espermatozoides alterados, é a elevação da temperatura testicular, resultado do aumento de tecido adiposo escrotal. O processo de espermatogênese é altamente sensível à temperatura, sendo ideal entre 34°C e 35°C em humanos. A elevação desta temperatura está associada com a redução na motilidade espermática, e a progressão de dano de DNA do espermatozoide. Estas mudanças de temperatura testicular podem ocorrer devido a patologias físicas como a varicocele, o crescimento da adiposidade escrotal, e distúrbios no dia a dia, como andar por muito tempo de bicicleta. Todos estes fatores estão relacionados à redução da função do espermatozoide levando a infertilidade.
Tratamento
Como tratamento, o primeiro passo a ser dado é a redução de peso por métodos clínicos, com dieta hipocalórica, medicações apropriadas e exercícios aeróbicos, ou por opção a métodos cirúrgicos (cirurgia bariátrica).
O excesso de peso não está relacionado somente com a infertilidade, mas com a saúde como um todo. Pessoas acima do peso possuem riscos maiores de desenvolverem doenças cardíacas, diabetes, alguns tipos de câncer, derrame cerebral e artrite.
No caso de ser constatada a impossibilidade de gerar um filho, o casal deve procurar uma clínica especializada em reprodução humana, a fim de tentar outros métodos. Existem três tipos de procedimentos: coito programado, cuja relação sexual é programada para o período fértil; Inseminação Intrauterina (IIU), que consiste em selecionar os melhores espermatozoides e colocá-los dentro do útero, para facilitar o encontro do óvulo com os espermatozoides; e a fertilização in vitro, em que a fecundação dos gametas (óvulos e espermatozoides) é feita em laboratório.
Mais informações relacionadas à reprodução assistida estão nos canais da Fertivitro:
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* Aline Azevedo, phD – embriologista e coordenadora do Programa Opportunity da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana. A especialista recebeu o Prêmio Jovens Cientistas em Paris, em 2012.