Fatores como a obesidade, o consumo de álcool, cafeína, tabaco e medicamentos e a idade reprodutiva podem causar infertilidade e aborto espontâneo
Por Dr. Luiz Eduardo Albuquerque*
Poucas pessoas sabem, mas o estilo de vida do ser humano influencia totalmente em sua capacidade de gerar um filho. Isso ocorre tanto em relação ao consumo de substâncias químicas, alimentação desregrada, a vida moderna ou a própria falta de cuidado com a saúde.
Os principais fatores negativos que interferem diretamente na fertilidade do homem e da mulher são a ingestão de álcool e cafeína, o consumo do tabaco, a obesidade, o uso excessivo de anti-inflamatório não esteroide e a própria idade reprodutiva, que varia entre os 35 e 37 anos na mulher e acima dos 45 anos no homem, período em que há queda na qualidade dos óvulos e espermatozoides. O aborto, a malformação fetal, baixo peso e lesões neurológicas no feto são as causas mais identificadas, até hoje, quando os pacientes apresentam esse perfil de estilo de vida.
Álcool
A quantidade de 12 gramas de etanol (álcool) é considerada uma unidade alcoólica padrão, que corresponde a uma garrafa de cerveja, ou a um cálice de vinho, ou uma dose de bebida destilada. Quando a ingestão da substância é feita em menos de três doses por semana, caracteriza-se o consumo leve; torna-se moderado ao ingerir de três a 13 unidades por semana. Para aqueles que bebem mais de 14 copos semanais, classifica-se como um alto consumo de teor alcoólico no sangue.
Uma pesquisa sobre o “Consumo moderado de álcool durante a gravidez e o risco de morte fetal”, realizada pela cientista e professora Anne-Marie Nybo, em 2012, na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, com mais de 92 mil grávidas que estavam no primeiro trimestre gestacional, sendo que 55% eram abstêmias e 2,2% ingeriam de quatro ou mais doses de bebidas por semana, constatou que mesmo consumos mínimos de álcool, durante o início da gestação, aumentam o risco de aborto espontâneo.
Cafeína
Ainda pouco esclarecida pela literatura médica, a cafeína é considerada um alerta para a fertilidade, por poder estar associada, em alguns casos, ao aborto espontâneo e poder prejudicar a formação dos espermatozoides, processo chamado de espermatogênese. A substância está presente no café, no chá mate, nos energéticos, refrigerantes à base de cola, chocolate e analgésicos.
Segundo os pesquisadores internacionais, a canadense Claire Infante-Rivard e o italiano Massimo Giannelli, uma dose com mais de 300 miligramas de cafeína já é considerada prejudicial à fertilidade.
Veja a seguir a quantidade média de cafeína contida em cada produto.
Produto | Medida | Quantidade média de cafeína (mg) |
Café expresso | 1 xícara (80 ml) | 100 |
Café filtrado | 1 xícara (50 ml) | 35 |
Chás preto, verde ou branco | 1 xícara (180 ml) | 45 |
Energético | 1 lata (250 ml) | 80 |
Refrigerante à base de cola | 1 lata (350 ml) | 50 |
Chocolate | 1 barra (60 g) | 25 |
Analgésico | 1 comprimido | 65 |
É válido ressaltar que além do excesso de ingestão da cafeína na gravidez, podendo chegar a 900 miligramas por dia, outros fatores interferem na causa de um aborto, como o fumo durante a gestação, o álcool e a falta de exame pré-natal.
Por este motivo, não é totalmente certo concluir que a cafeína causa infertilidade ou aborto espontâneo, por haver uma discordância nas pesquisas e entre os estudiosos, mas é possível afirmar que a cafeína em excesso associada ao fumo pode prejudicar a fertilidade, a formação e o crescimento fetal e causar parto prematuro.
Tabaco
Estudos realizados pela doutora Maria T. Zenzes indicam que 30% das mulheres em idade reprodutiva são consumidoras de tabaco, já nos homens esta incidência é de 35%. A pesquisa revelou a existência de materiais pesados, como o cádmio, no interior do líquido folicular (o folículo é o cisto que contém o óvulo, no interior do ovário) de pacientes inférteis, que estavam sendo submetidas ao tratamento de fertilização in vitro. A mesma pesquisa mostrou que mesmo as mulheres não fumantes, que apenas convivem com fumantes, também possuem altas concentrações de cádmio no líquido folicular.
De acordo com a professora Cristina Augood, há uma probabilidade de 1,6 vezes maior de uma mulher fumante ser infértil, e uma chance de mais de duas vezes de haver mais fumantes inférteis do que férteis. Aos olhos da especialista, isso quer dizer que a taxa de infertilidade é maior em mulheres que fumam quando comparadas a não fumantes, diminuindo o índice de fecundidade e aumentando o tempo para conceber.
Para alguns cientistas, a evidência sobre os efeitos do tabaco no aborto espontâneo e defeitos de nascimento é inconsistente. Muitos acreditam que ainda é controverso afirmar que o tabaco aumenta o risco de aborto. Mas mesmo que alguns trabalhos não conseguiram provar os reais efeitos do tabaco no aborto espontâneo e em relação a defeitos de nascimento, sabemos que é mais do que provado que o tabaco provoca uma diminuição acentuada do peso no nascimento por alterações vasculares na placenta, levando a insuficiência placentária, ou seja, ao baixo fluxo sanguíneo e nutricional do feto. O que se pode afirmar é que o fumo, de qualquer espécie, é prejudicial à saúde em geral e, consequentemente, pode afetar a fertilidade ou o desenvolvimento do feto.
Obesidade
Nos últimos anos, algumas publicações científicas nos levam a refletir mais sobre a influência do excesso de peso em homens e mulheres que pretendem ter um filho. Pesquisadores do Reino Unido descobriram que a obesidade está associada a um risco crescente durante o primeiro trimestre de gestação e ao aborto recorrente. Ao analisarem um grupo de gestantes, eles constataram que as pacientes obesas têm chances maiores de ter um aborto.
Isso ocorre porque o excesso de peso gera problemas hormonais que afetam o processo reprodutivo, como a resistência à insulina, que está associada à Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Além do aborto, a SOP está associada a ciclos menstruais irregulares, anovulação (diminuição ou parada da ovulação) e níveis elevados de hormônios masculinos, diminuindo, dessa forma, as chances de gestação.
A grande quantidade de gordura corporal influencia também a produção do hormônio liberador de gonadotropina (GnRH), responsável por regular a ovulação nas mulheres. Em mulheres obesas, o ambiente folicular geralmente se apresenta alterado.
Anti-inflamatório não esteroide
Pouco se discute sobre a interferência dos anti-inflamatórios não esteroides – comumente utilizados nos casos de dores por traumas em geral – na gestação. Esses medicamentos estão associados a um maior risco de aborto a grávidas usuárias. Isso porque, os anti-inflamatórios não esteroides inibem substâncias essenciais na ovulação, implantação e desenvolvimento da placenta.
É válido lembrar que a aspirina, quando prescrita pelo médico na dose recomendada, não está associada a abortos ou danos à fertilidade e à gestação. Antes de ingerir qualquer tipo de medicamento, é indicado a paciente procurar um especialista.
Idade reprodutiva
Com o aumento educacional das mulheres, que gerou a competição no mercado de trabalho e retardou o casamento e/ou aumentou as taxas de divórcios e, consequentemente, colocou em segundo plano o desejo te der um filho, nascem novos problemas para a reprodução humana.
Estudos revelam que a idade dos pais influencia no risco de aborto espontâneo, principalmente, nos três primeiros meses de gestação. O acidente cresce de acordo com o aumento da idade dos genitores.
O fato ocorre devido à queda na qualidade dos óvulos e espermatozoides, em mulheres com mais de 35 anos e homens a partir dos 45.
*Dr. Luiz Eduardo Albuquerque, ginecologista, especialista em Reprodução Assistida, é diretor da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana.
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