A criopreservação do sêmen, técnica que seleciona os melhores espermatozoides e os congela em laboratório, adotada antes de começar o tratamento para o câncer, é o único método de preservar a fertilidade masculina
Por Aline de Cássia Azevedo*
Crianças e adultos diagnosticados com câncer geralmente têm altas chances de sobrevivência devido aos novos protocolos de tratamento, que incluem cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Mas, infelizmente, estes tratamentos possuem efeitos colaterais e muitos sobreviventes irão sofrer com os efeitos adversos que podem incluir infertilidade, doenças cardíacas e pulmonares, neurotoxicidade (substâncias tóxicas que alteram o sistema nervoso e causam danos ao tecido nervoso), falência renal e malignidades secundárias.
As células malignas ou cancerosas apresentam uma característica importante que é a proliferação rápida e desordenada, o que leva ao crescimento do tumor. A quimioterapia e a radioterapia agem justamente interferindo nestes mecanismos de proliferação destas células, causam danos durante a fase de multiplicação (conhecida como mitose), e fazem com que elas morram (processo conhecido como apoptose).
A fertilidade do homem pode ficar prejudicada após a quimioterapia e/ou radioterapia. Os espermatozoides são células em constante multiplicação, sendo assim, a quimioterapia e a radioterapia também agirão na multiplicação destas células, interferindo no seu desenvolvimento e causando infertilidade. Além disso, o tratamento oncológico também pode alterar as atividades das células responsáveis pela produção dos hormônios masculinos, levando à redução do estímulo para produção de espermatozoides.
É importante lembrar que a quimioterapia age sistemicamente, ou seja, por meio de sua distribuição por todo o corpo pela corrente sanguínea, chega até os testículos do homem e interfere na formação dos espermatozoides. Possui um efeito dose-dependente sobre as células germinativas, em que as drogas alquilantes (quimioterápicas) como a ciclofosfamida, mustine e clorambucil, podem alterar severamente os túbulos seminíferos (onde os espermatozoides são produzidos) e destruir espermatogônias (células precursoras dos espermatozoides).
A radioterapia afeta principalmente as espermatogônias e, possivelmente, espermatócitos. Uma dose de apenas 0,15 Gy pode causar danos irreversíveis, embora a recuperação completa possa ser possível se o número de células-tronco não estiver se esgotado. Gy é a sigla da palavra Gray, uma unidade no sistema internacional de medidas, que representa a quantidade de energia de radiação ionizante absorvida (ou dose) por unidade de massa.
Solução
A criopreservação do sêmen, técnica que seleciona os melhores espermatozoides e os congela em laboratório, adotada antes de começar o tratamento para o câncer, é atualmente o único método de preservar a fertilidade masculina.
Apesar da radioterapia e quimioterapia, cerca de dois terços dos pacientes mantêm a capacidade de conceber um filho se a função ejaculatória é mantida, mas muitos precisarão recorrer às técnicas de reprodução assistida para conseguir a paternidade, pois cerca de 15 % permanecerão com azoospermia. Os resultados do tratamento com sêmen criopreservado são geralmente bons. A fertilização in vitro (FIV) ou a Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) são as técnicas de reprodução humana indicadas para o sucesso do tratamento.
Até agora, não há estudos que comprovem o aumento na taxa de anormalidades congênitas ou malignidades nas crianças nascidas de pais que passaram por tratamento de câncer no passado.
Com o diagnóstico cada vez mais precoce do câncer e com as novas técnicas de tratamento, as chances de cura dos pacientes são cada vez maiores. Assim, é fundamental que a questão da fertilidade seja abordada o mais breve possível antes do início da terapia, pois caso haja indicação de algum procedimento para preservar a fertilidade, este deve ser realizado o mais rápido possível, para evitar atrasos no tratamento do câncer e garantindo, assim, a chance do paciente conseguir a paternidade futura.
Mais informações relacionadas à reprodução assistida estão nos canais da Fertivitro:
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* Aline Azevedo, phD – embriologista e coordenadora do Programa Opportunity da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana. A especialista recebeu o Prêmio Jovens Cientistas em Paris, em 2012.