Tratamento de Reprodução Assistida ajuda casais soropositivos
Por Dra. Fernanda Coimbra Miyasato*
A AIDS (Acquired Immune Deficiency Syndorme) é uma doença que fragiliza o sistema imunológico, dificultando a proteção de diversos microorganismos e se manifesta em pessoas que adquiriram o retrovírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). O tempo médio entre a infecção pelo HIV e a manifestação da AIDS é de aproximadamente dez anos. A transmissão do vírus HIV pode ocorrer principalmente pelo contato sexual sem preservativo; transfusão de sangue contaminado; reutilização de seringas e agulhas, e da mãe para o bebê durante a gravidez ou na amamentação.
É importante destacar que ter o vírus HIV não significa que a AIDS irá se desenvolver. O indivíduo contaminado pode ter um convívio social absolutamente normal.
O risco de transmissão no coito varia entre uma chance em mil por contato (homem infectado) e menos de uma chance em cada mil contatos em relação à mulher para homem. De acordo com pesquisas realizadas por Maria J. Wawerr, em 2005, estes valores podem variar muito dependendo do estágio da doença, da carga viral elevada e da presença de outras doenças de transmissão sexual.
Nos homens soropositivos, a carga viral no esperma ou secreções genitais nem sempre se correlaciona com a carga viral presente no sangue. É possível encontrar o vírus do HIV no sêmen mesmo em doentes com cargas virais no sangue abaixo do limite de detecção.
Com os avanços da terapia antiretroviral e grandes melhorias na qualidade de vida dos pacientes, cresce a procura das técnicas de reprodução assistida por casais sorodiscordantes (apenas um dos cônjuges contaminado) que almejam ter um filho biológico saudável. Atualmente é possível a procriação entre os casais sorodiscordantes.
Apesar de inexistir no Brasil uma legislação específica sobre o assunto, devemos salientar que para o tratamento desses casais é necessário um centro exclusivo para portadores de doenças sexualmente transmissíveis, com instalações adequadas e rigoroso controle de segurança aos pacientes e profissionais da saúde. Neste caso, o objetivo é separar os espermatozóides do líquido seminal, aumentando a segurança em utilizar estes espermatozóides em várias técnicas de Reprodução Assistida.
As opções de tratamentos disponíveis dependerão, em parte, de qual parceiro está infectado. Nos homens infectados e mulheres sadias as opções são: uso de espermatozóides de doador ou reprodução assistida com o cuidado de conceber uma criança sem contaminar a mulher. Os casais devem ser avisados que o risco de uma amostra permanecer positiva após o preparo é de cerca de 5%. Até o presente não existe publicação de casos de soro-conversão nem na mulher nem na criança em mais de três mil ciclos de tratamento.
Quando as mulheres são afetadas as opções são: Inseminação Artificial Intrauterina (IIU), procedimento em que se deposita o sêmen dentro da cavidade uterina por meio de um cateter introduzido pelo orifício cervical; Fertilização in Vitro convencional (FIV), técnica em que a fertilização dos gametas ocorre em laboratório, onde os espermatozóides são colocados junto aos óvulos; ou Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóide (ICSI), que consiste na introdução de um único espermatozóide dentro do óvulo, por meio de uma micropipeta.
Além do uso das drogas antiretrovirais, são importantes algumas condutas como o parto cesariana programado em gestantes com carga viral presente no sangue ou naquelas que não realizaram tratamento na gestação e a suspensão do aleitamento materno. Estas são condutas que podem reduzir o risco da transmissão do HIV da mãe ao filho para menos de 1%. É importante informar que não existem dados de segurança em longo prazo sobre drogas anti-HIV administradas durante a gravidez.
Não há diferença nos resultados de IIU nos pacientes soropositivos em relação aos pacientes não contaminados. Por outro lado, nos tratamentos de FIV e ICSI, muitos autores mostram taxas de gravidez menores nestas pacientes, já que elas possuem uma maior incidência de infertilidade por causa tubo-peritoneal, pois as mesmas são mais susceptíveis a DSTs, de acordo com estudos revelados por Jeanine Ohl, em 2005.
A Fertivitro orienta o aconselhamento inicial do casal que deverá receber informação exaustiva acerca de todas as opções de reprodução disponíveis, diagnósticos e pré-requisitos do tratamento de fertilização, além da situação psicossocial do casal. São aspectos relevantes a serem discutidos, como o planejamento e as perspectivas em relação ao futuro da família, incluindo invalidez ou morte de um dos cônjuges.
* Dra. Fernanda Coimbra Miyasato é ginecologista e especialista em Reprodução Assistida da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana.
Informações relacionadas estão no site da Fertivitro: www.fertivitro.com.br