A busca por atividades prazerosas e o acompanhamento psicológico auxiliam o casal a amenizar os sofrimentos decorrentes das expectativas e dos possíveis resultados negativos
Para a maioria das mulheres e dos homens, o título “ser mãe e ser pai” é o pilar da identidade feminina e masculina. Apesar das mudanças sociais das últimas décadas, graças às quais o desenvolvimento profissional ganhou terreno na construção do espaço de muitas mulheres, ainda há o desejo da experiência da maternidade. O que ocorre é o fato do adiamento deste plano, porque a idade que, geralmente, mais produzimos profissionalmente coincide com a idade de mais fertilidade e saúde para engravidar. Costumo dizer que a natureza não acompanha a evolução feminina na sociedade e temos que estar atentas para esta verdade.
Também é fato de que se tratando de infertilidade não é verdade que somente mulheres com mais de 35 anos as vivencie, também é real que mulheres jovens ou ainda homens apresentem dificuldades para engravidar por diversos fatores. A questão que aqui nos interessa são as repercussões emocionais que envolvem tais vivências, tanto das que não podem engravidar e como daqueles que passam por tratamentos de reprodução assistida.
Primeiramente, quando qualquer casal se propõe inicialmente a ter filhos, também se inicia o processo de esperar, seja esperar menstruar para saber quando vai ovular, depois esperar o dia da ovulação e se preparar para o parceiro com o objetivo de alcançar a gravidez. Quando se vivência tudo isto e o objetivo é alcançado, a gravidez foi alcançada, tudo fica bem. O verdadeiro problema é quando infelizmente o percurso não é este.
Vejo ainda mulheres extremante ansiosas que estão tentando engravidar há pouco tempo, com cinco meses, e passam a direcionar todas suas energias na gravidez, quando o indicado seria estarem mais tranquilas. Quando se deseja engravidar tem-se um dos sentimentos mais comuns e vividos da humanidade: a ansiedade, que está totalmente associado a espera.
Ansiedade, ânsia ou nervosismo é uma característica biológica do ser humano, que antecede momentos de desafios ou perigo real ou imaginário, marcada por sensações corporais desagradáveis, tais como uma sensação de vazio no estômago, coração batendo rápido, medo intenso, aperto no tórax, transpiração etc. Qualquer um pode sentir e, por isso, a ansiedade acaba se tornando constante na vida de muitas pessoas. Dependendo do grau ou da frequência, pode se tornar patológica e acarretar muitos problemas posteriores, como o transtorno da ansiedade. Portanto, nem sempre é patológica.
A psicologia entende que muitas pessoas que sofrem de ansiedade “exacerbada” frente aos acontecimentos mais marcantes da vida, geralmente já apresentavam este jeito de ser, isto é, já eram ansiosas, porém a ansiedade tende a progredir em situaçãoes que tenham representacões importantes na vida deste individuo.
A infertilidade gera muita ansiedade, mesmo para quem não é tão ansioso, pois o fato de perdermos o controle diante dos planos de vida tende a nos deixar inseguros e desprotegidos, como no caso do desejo de uma gravidez, toda a situação passa a girar em torno do desconhecido e de nosso descontrole, fatores inerentes à própria vida.
É sabido que os tratamentos de reprodução assistida oferecem a possibilidade de driblar a infertilidade e realizar o “sonho do filho”, mas infelizmente não é tão simples assim. Apesar de auxiliarem e muito, também podem gerar muita ansiedade, pois para o paciente a gravidez já não aconteceu como ocorre com “todo mundo”, há ainda a espera de que tudo corra bem durante o procedimento, além da dúvida se o resultado será positivo ou não. Com todas essas preocupações o motivo de ansiedade já está instalado.
A espera do resultado possitivo da gravidez mobiliza emocionalmente os pacientes juntamente com a vivência de acompanhar cada etapa da evolução, como o antes e o depois da transferência dos embriões, como por exemplo, são vivências que promovem angústia e exacerbam a ansiedade. Isso se dá porque ninguém sabe e imagina que precisa de ajuda médica para realizar algo que a princípio a natureza realiza com tanto vigor.
Em minha opinião, o momento que gera mais ansiedade é após a transferência de embriões. O fato de ter que esperar se “vai dar certo” é extremamente ansiogênico para qualquer paciente, mas para alguns poder ser, inclusive, perigoso do ponto de vista psicológico.
Estar atento e consciente que a ansiedade faz parte do tratamento de reprodução assistida e se proteger com recursos terapêuticos, como atividades saudáveis —esporte, lazer, gastronomia, práticas de hobbies — ao casal, fará toda a diferença. Costumo dizer que casais felizes e que se amam tendem a se auxiliarem muito. A busca por atividades prazerosas é ótima alternativa, mas vale buscar auxílio profissional terapêutico se os sentimentos negativos e sofrimentos tomarem grandes proporções.
Acompanhamento psicológico é essencial ao casal que irá passar por um tratamento de infertilidade. É preciso entender que muitos sentimentos negativos são mobilizados e que o paciente (casal) necessita de apoio. O trabalho de orientação psicológica é fundamental para auxiliar tanto no contexto físico do procedimento como no emocional, nas expectativas, em lidar com a situação. Nós esbarramos em algo que não é acessivel aos olhos humanos: os sentimentos e emoções, pois é a partir deles que nos aventuramos na vida com o que ela tem de bom e de ruim.
Artigo de Ana Rosa Detilio Monaco psicóloga da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana.