É possível preservar a vida sexual no tratamento de reprodução humana

shutterstock_58267207-vida-sexualSuporte psicológico é fundamental para evitar os abalos conjugais

Por Ana Rosa Detilio Monaco*

Sabemos que tratamentos para engravidar podem transformar sonhos em realidades, mas limitações também fazem parte deste processo, o que cabe aos profissionais envolvidos oferecerem cuidados nas esferas emocionais.
Ao iniciar o tratamento de reprodução assistida e durante o período dos procedimentos, o casal vivencia momentos de expectativas frente aos resultados, o que provoca ansiedade e outros sentimentos que, certamente, repercute em muitos setores da vida dos envolvidos, principalmente, na área sexual. Para a Psicologia, as pessoas são seres humanos únicos que expressam seus sintomas na esfera corporal, sendo a sexualidade uma das mais importantes. Gerar filhos biológicos está completamente ligado ao setor sexual, sendo que abalos nesta estrutura podem significar complexas questões emocionais.
Quando se opta pela reprodução assistida, a vida sexual dos parceiros torna-se pública. O que até então era realizado de forma íntima passa a ser compartilhada com a equipe médica, pois a intimidade do casal tem de ser monitorada e modificada, desde o momento em que as relações sexuais devem ser realizadas ou evitadas, até quando é preciso aspirar os óvulos ou colher o sêmen ou a fecundação, transferência, entre outros procedimentos. Essas modificações são expressivas na rotina do casal e, principalmente, na sua espontaneidade. Portanto, a possibilidade de crises na vida sexual e conjugal está presente na grande maioria dos pacientes em tratamento, porque o sexo pode passar a ser visto como obrigação, exclusivamente para o resultado positivo, deixando de lado a sensualidade e o prazer antes experimentados.
É muito comum o casal começar a ter relações sexuais somente nos dias férteis da mulher e tornar o ato um dever, podendo provocar insatisfação e pouca intimidade, pois passa a ser regida pelo calendário. No caso dos homens, eles precisam fazer a coleta seminal por masturbação e sempre na clínica para garantir a qualidade do material, situação, na maioria das vezes, constrangedora. Lidar com estas e outras realidades que os tratamentos implicam necessita dos envolvidos recursos emocionais muitas vezes desconhecidos para eles.
Quando o casal tem indicação para o tratamento por fertilização in vitro (FIV), em que não há a necessidade de relações sexuais programadas para concretizar o procedimento, pelo fato de o processo ser feito em laboratório, alguns pacientes deixam de praticar sexo por longos períodos, abalados pelos sentimentos e dúvidas que as técnicas podem os expor. E esta crise pode fazer parte da vida de alguns casais por alguns anos, pois nem todos conseguem sucesso a curto prazo.
Como resolver?
Diante dessa situação, é muito importante que o casal busque preservar a relação conjugal, tarefa que não é fácil, mas é possível. Parceiros em sintonia tendem a ter menos dificuldades em lidar com estes problemas e podem se unir, ainda mais, diante dos obstáculos, porém, casais desunidos tendem a ter sérias crises e propensos a abalos conjugais. Para auxiliar nesse processo, é fundamental contar com o atendimento de um psicólogo, que tem os instrumentos necessários para oferecer o suporte adequado.
Além do tratamento psicológico, existem algumas maneiras de o casal buscar harmonia na vida sexual. Sugiro que os parceiros tenham atenção um com o outro e respeite as diferenças no modo de cada um viver, porque a sexualidade tende a se sobressair neste momento. Todo o cuidado é necessário. É importante o casal encontrar criatividade para poder praticar o sexo de formas diferentes em relação às de costume, pois a maioria dos tratamentos mais complexos orienta algum tempo de abstinência sexual durante o procedimento. Muitas vezes, as mulheres deixam, durante o tratamento, de ter desejo sexual e alguns homens não compreendem. Ressalto que a resposta sexual da mulher é diferente em relação à do homem, porque as mulheres, geralmente, necessitam que tudo esteja relativamente bem ao seu redor. Estar em tratamento de RA não é um momento agradável para nenhum dos pares, mas a mulher parece ficar mais vulnerável do que os homem também na esfera sexual, apresentando diminuição do desejo. Mas isso pode ocorrer com os homens também. Companheirismo e cumplicidade fazem grande diferença. Compartilhar seus reais sentimentos e ser compreendido pode significar criar formas distintas de se amar daquelas que fomos apresentados e que acreditamos serem únicas.
Eu acredito que todos estarão expostos a estes desafios e vivenciam alterações neste contexto. Vale ressaltar a importância da vida sexual não só para ter filhos, mas, também para o prazer e a intimidade. Este casal já existe e tem uma história de amor, que busca a plenitude com a chegada do filho. Já para este bebê que está para chegar, nada mais indicado do que um ambiente saudável para se desenvolver.
 
* Ana Rosa Detilio Monaco é psicóloga da Fertivitro  — Centro de Reprodução Humana.

 
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