Espermograma: importante exame na investigação da infertilidade conjugal

shutterstock_59810581-qualidade-seminalQualidade do exame é fundamental para o diagnóstico e a indicação do melhor tratamento para a infertilidade

Por Aline de Cássia Azevedo*


A infertilidade afeta aproximadamente um em cada cinco casais. O fator masculino, isoladamente, é responsável por cerca de 35% dos casos com infertilidade conjugal, e está associado a fatores femininos em 20% das uniões inférteis. Apesar dos avanços nas técnicas de Reprodução Assistida, continua sendo imprescindível o exame de análise seminal, conhecido como espermograma, solicitado no início da investigação do casal.
Tradicionalmente, o diagnóstico de infertilidade masculina depende de uma avaliação descritiva dos parâmetros do ejaculado (esperma/líquido seminal), com ênfase na concentração, motilidade e morfologia dos espermatozoides. A análise seminal é capaz de prover informações da produção testicular, de algumas propriedades funcionais dos espermatozoides e da função secretora das glândulas do sistema reprodutor masculino.
Por razões de padronização, os testes que envolvem sêmen devem ser realizados de acordo com diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo:
1. Coleta da amostra: deve ser obtida por masturbação e ejaculada num frasco adequado de vidro ou plástico estéril e de “boca larga”. O recipiente não pode apresentar efeitos tóxicos sobre os espermatozoides. Deve-se respeitar um mínimo de 48 horas e não mais que sete dias de abstinência sexual. É indicado que a amostra seja coletada numa sala particular perto do laboratório. Se isso não for possível, ela deve ser entregue ao laboratório dentro de uma hora. O frasco deve ser adequadamente etiquetado com o nome do paciente, número de identificação, data e hora da coleta.
2. ANÁLISE SEMINAL: se divide em duas partes, macroscópica e microscópica.
Análise macroscópica:
– Liquefação: um sêmen normal se torna líquido em 60 minutos em temperatura ambiente, caso isso não aconteça, pode ser indicativo de disfunção da próstata.
– Aparência e cor: uma amostra normal tem aparência homogênea e cor branco opalescente. Avermelhada pode indicar sangue no sêmen, câncer de próstata ou prostatite (inflamação na próstata); amarelada sugere infecção.
– Volume: um esperma normal tem de 1,5 a 5,0 mL. Um volume acima de 5,0 mL é suspeito de infecção aguda nas glândulas anexas, grandes períodos de abstinência ou uso de antibióticos. Quando inferior a 1,5 mL é sugestivo de processo inflamatório crônico, ejaculação retrógrada, anormalidades de glândulas sexuais acessórias, obstrução de ducto ejaculatório, hipoplasia (diminuição do desenvolvimento) de vesículas seminais, mas também pode ser ocasionado por erro de coleta.
– Viscosidade: será classificada como normal quando gotas são formadas. No caso de viscosidade anormal verifica-se um filamento de mais de dois centímetros. A viscosidade aumentada pode estar relacionada com disfunção prostática por inflamação crônica ou com disfunção de vesículas seminais.
– pH: é determinado pelas secreções da próstata (ácida) e vesícula seminal (básica). A medida do pH será executada dentro do período de uma hora da coleta do sêmen e, normalmente, varia entre 7,0 e 8,5. As amostras com pH superior a 8,5 devem ser avaliadas quanto à presença de infecção ou inflamação na próstata. Em caso de pH menor que 7,0 pode-se suspeitar de ausência total ou parcial (agenesia) ou obstrução das vesículas seminais e do ducto ejaculatório.
Análise microscópica:
– Concentração espermática: é determinada por meio de câmaras da contagem, sendo classificada como:
a) Normozoospermia: concentração normal, sendo cerca de 15 milhões espermatozoides por mililitro (mL).
b) Oligozoospermia: concentração abaixo dos valores de normalidade, ou seja, menor que 15 milhões espermatozoides por mililitro (mL).
c) Polizoospermia: concentração muito acima dos valores de normalidade, ou seja, igual ou maior que 200 milhões espermatozoides por mililitro (mL).
d) Azoospermia: nenhum espermatozoide no líquido seminal.
– Motilidade: somente um espermatozoide móvel é capaz de penetrar no muco cervical, migrar pelo sistema reprodutor feminino, penetrar o óvulo e conseguir a fertilização. A avaliação da motilidade do espermatozoide também é realizada na câmara de contagem, sendo classificado como:
Tipo A – espermatozoides móveis com progressão rápida;
Tipo B – espermatozoides móveis com progressão lenta;
Tipo C – espermatozoides móveis, porém sem progressão;
Tipo D – espermatozoides imóveis.
Para uma amostra ser considerada normal, deve ter no mínimo 32% dos tipos A e B.
– Células redondas: o sêmen também apresenta outros elementos celulares como: espermatócitos e espermátides (células precursoras dos espermatozoides); leucócitos (células de defesa); eritrócitos (hemácias); células epiteliais; bactérias; fungos; entre outros. É importante diferenciar as células de defesa das células precursoras dos espermatozoides, porque a presença de mais de um milhão de células de defesa por mililitro de sêmen ejaculado ou mais de cinco milhões no total ejaculado indica um processo infeccioso, devendo ser tratado.
– Morfologia: é o formato do espermatozoide onde será avaliado cabeça, peça intermediária e cauda. Assim os espermatozoides são classificados como normais (ovais) ou amorfos, bicéfalos, megalocéfalos, afilados, defeitos de peça intermediária, defeitos de cauda, entre outros. Geralmente, é utilizado o critério de Kruger, em que são contados 200 espermatozoides que são medidos com uma régua (micrômetro). O valor normal de morfologia deve ser maior ou igual a 4% de espermatozoides ovais.
Após a análise criteriosa de todos os parâmetros citados acima, o sêmen recebe então a avaliação final, sendo:
Normozoospermia: ejaculado sem alterações segundo os critérios de normalidade.
Oligozoospermia: concentração menor que 15 milhões espermatozoides/mL.
Teratozoospermia: morfologia menor que 4% (Kruger).
Astenoszoospermia: motilidade menor que 32% de espermatozoides progressivos.
Oligoastenoteratozoospermia: alteração nas três variáveis, concentração, morfologia e motilidade.
Necrozoospermia: todos os espermatozoides mortos.
Já está demonstrado pela literatura que as características seminais tradicionais, avaliadas pelo espermograma, têm um bom valor prognóstico para a fertilidade natural e in vitro.
A infertilidade masculina não significa a impossibilidade definitiva de ter filhos, pois hoje existem vários recursos de Reprodução Assistida para superar essa dificuldade. Um diagnóstico bem feito é fundamental para a escolha do método mais adequado de tratamento.
É muito importante ressaltar que a qualidade do exame também é fundamental para a indicação do tratamento. A qualidade do espermograma realizado em laboratórios de análises clínicas, em geral, tem sofrido críticas há muitos anos, isto se deve ao fato de o exame ser realizado por profissionais não especializados e sem experiência, podendo comprometer todo o tratamento do casal.
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* Aline Azevedo, phD – embriologista e coordenadora do Programa Opportunity da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana. A especialista recebeu o Prêmio Jovens Cientistas em Paris, em 2012.

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