Mulheres com hipotireoidismo têm mais chances de abortar, diz estudo

 Problema afeta também a libido das pacientes
Um estudo publicado pelo European Journal of Endocrinology constatou que mulheres com hipotireoidismo subclínico apresentam um maior risco de aborto espontâneo quando se submetem à fertilização in vitro. Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), regional do Paraná, Gisah Amaral Carvalho, com a revisão de quatro estudos, os pesquisadores constataram que uma mulher subfértil com marcador para doença autoimune da tireoide tem duas vezes mais chances de abortar do que uma mulher sem o marcador.
Estes resultados aparecem também em pesquisas semelhantes sobre gravidez espontânea, mostrando consistência em todos os relatórios. A endocrinologista explica que o tema hipotireoidismo e infertilidade vem sendo constantemente estudado em todo mundo. A doença, que é causada por uma produção insuficiente de hormônios tireoidianos fabricados pela glândula tireoide, tem uma estreita conexão com problemas de infertilidade.
— O hipotireoidismo pode interferir no processo de engravidar e muitas mulheres pensam que não podem e ter filhos por ter a doença — diz a professora da Universidade Federal do Paraná.
Segundo a médica, o hipotireoidismo já começa afetando a libido, deixando a mulher com constante sensação de esgotamento físico e mental.
O que muitas mulheres e homens não sabem é que hormônios tireoidianos desempenham um importante papel na manutenção do funcionamento normal do sistema reprodutivo. Doenças da tireoide não tratadas podem levar a problemas de fertilidade em ambos os sexos.
As pacientes que apresentam deficiência grave da tireoide, de duração prolongada, têm menor chance de engravidar ou, quando concebem, de manter a gravidez. Estudos mostram que 2,3% das mulheres com mais de um ano de infertilidade têm hipotireoidismo. Já 69% das pacientes têm disfunção ovulatória. Mas observa-se que 64% engravidam após receberem o controle adequado.
— As mulheres devem ser testadas para o hipotireoidismo em qualquer suspeita de infertilidade, porque a disfunção da glândula pode causar problemas com a ovulação e menstruação irregular — alerta ressaltando ainda que, às vezes, também em pacientes com hipotireoidismo, não há tempo suficiente entre a ovulação e a menstruação para que a concepção ocorra.
Além disso, mulheres com hipotireoidismo também têm mais chance de ter ovários policísticos, ou cistos nos ovários, que dificultam a ovulação e podem causar problemas de fertilidade.
— É sabido também que o hormônio T4 desempenha um papel importante na implantação e desenvolvimento precoce do feto. Outra constatação é que dentre as pacientes com endometriose – considerada a maior causa de infertilidade feminina – um terço também apresentam hipotireoidismo — destaca.
Em mulheres em idade reprodutiva (20 a 40 anos), a prevalência de hipotireoidismo varia entre 2% e 4%. Neste grupo etário, a doença autoimune da tireóide (DAT) é a causa mais comum de hipotireoidismo.
— Outro caminho através do qual o hipotireoidismo pode ter impacto sobre fertilidade está na alteração do metabolismo periférico do estrógeno e pela diminuição da produção do hormônio SHBG, uma glicoproteína que se liga aos hormônios sexuais, especificamente a testosterona e o estradiol. O hipotireoidismo também pode levar a menorragia (menstruação longa e intensa) por alterado da produção de fatores de coagulação — explica.
Além dos problemas para engravidar, abortos espontâneos, nascimentos prematuros e retardo de crescimento intrauterino podem ocorrer quando a doença não é diagnosticada ou tratada.
— Por isso, sempre que a mulher esteja pensando em engravidar, é importante consultar um médico que vai passar o exame de TSH para avaliar a função tireoidiana da mulher. É imprescindível que esse acompanhamento seja feito também durante o pré-natal — informa Gisah.
Caso a mulher já tenha sido diagnosticada com hipotireoidismo e venha controlando a doença, as chances de engravidar e ter uma gestação saudável são iguais as de uma mulher que não tenha a doença. É preciso apenas consultar sempre o médico de confiança para ajuste da dosagem.
Fonte: jornal Zero Hora, editoria Bem-estar, em 22/11/2010 http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Segundo%20Caderno&newsID=a3117182.xml

Posts Relacionados