da Folha de S.Paulo
Meninos cujos testículos não descem para a bolsa escrotal até os seis meses de idade devem ser operados antes de completar um ano. Após essa idade, aumentam as chances de câncer testicular e de infertilidade, alertam os urologistas.
A criptorquidia, ou escroto vazio, é uma das doenças de tratamento cirúrgico mais comuns da infância. Pode afetar até 3% dos recém-nascidos. Entre os prematuros, o índice chega a 30%.
A intervenção cirúrgica precoce tem sido um tema bastante discutido nos congressos de urologia. No último evento, ocorrido em novembro, um dos palestrantes, o belga Piet Hoebeke, chefe do Departamento de Uropediatria do Ghent University Hospital, defendeu que a cirurgia de criptorquidia seja feita o quanto antes. A recomendação é endossada pela Sociedade Brasileira de Urologia.
“Seis meses é a melhor idade para tratar. Se você trata precocemente, estará prevenindo o câncer e a infertilidade”, afirmou Hoebeke à Folha.
Segundo ele, se os testículos não descerem do abdome (local onde ambos se desenvolvem durante a vida intrauterina) para a bolsa escrotal até os seis meses, dificilmente isso acontecerá depois desse período.
E, se a cirurgia for feita mais tarde, aumentam os riscos de câncer de testículo (na população em geral, a chance é de um caso a cada grupo de 20 mil; entre os meninos com criptorquidia, um a cada 2.000). “A cirurgia precoce diminui em dez vezes o risco de câncer”, informa.
A não correção do problema, segundo ele, também aumenta em 30% as chances de o garoto ter a fertilidade prejudicada no futuro, especialmente nos casos em que os dois testículos não desceram. Isso ocorre porque a exposição a temperaturas mais altas (no caso, a região abdominal) pode inviabilizar a produção de espermatozoides, causando a infertilidade.
O urologista Antonio Macedo Júnior, chefe da uropediatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que antigamente os médicos recomendavam esperar até dois anos para operar o problema.
“Essa indicação está ultrapassada. Antes de um ano já sabemos se vai descer ou não na apalpação. Se não conseguirmos apalpá-lo ou notarmos os testículos altos, já é indicação cirúrgica.” Macedo Júnior afirma, porém, que o diagnóstico precoce não é a realidade no país, especialmente no SUS.
“Os meninos precisam ter a sorte de encontrar um pediatra na rede pública que consiga identificar o problema. Depois, precisam ser encaminhados para uma equipe de urologia, que já é mais difícil. Nesses gargalos, vai atrasar mesmo.”
Outro fator que ainda assusta os pais é a necessidade de anestesia geral para a cirurgia de correção da criptorquidia. “Os pais dizem: “Ah, eu tenho medo de que meu filho tome anestesia”. Eu digo para eles que uma hora sob anestesia geral é mais seguro do que passar uma hora dentro de um carro”, diz Hoebeke.
O médico também é contrário ao tratamento hormonal clássico, que continua sendo recomendado por muitos urologistas para acelerar o amadurecimento e a migração dos testículos para a bolsa escrotal. “Há cada vez mais e mais provas de que, dando hormônios, você pode destruir os testículos. E muitos pediatras continuam recomendando o tratamento”, afirma.
Fonte da matéria: Folha de S. Paulo – FOLHAONLINE – Equilíbrio e Saúde