Influências psíquicas ainda geram opiniões controversas, mas sabe-se que o estado emocional interfere na capacidade de gestar
Por Dra. Ana Rosa Detilio Monaco*
Penso que uma grande questão frente à infertilidade é buscar o motivo do diagnóstico. Mesmo que seja científico, físico e todos os exames revelem as causas, é normal do ser humano continuar a questionar para entender o porquê, principalmente em relação às questões as quais não se pode controlar.
Há grandes questionamentos sobre a existência ou não de causas psicológicas que expliquem a infertilidade. Na verdade, tudo o que se apresenta na esfera psíquica não é palpável nem nos exames mais sofisticados, daí o legítimo enigma: como considerar o que não é concreto?
Segundo alguns autores psicanalistas, a infertilidade considerada psicológica ou psicogênica (não seria visível fisicamente, e sim motivada por fatores emocionais inconscientes) nas mulheres foi compreendida, inicialmente, nos anos 50, como um possível reflexo do repúdio inconsciente à maternidade e à feminilidade, assim como à sexualidade. Desde então, muito se tem estudado para uma compreensão mais clara diante da forma em que os fatores psicológicos possam interferir na fertilidade.
Atualmente cerca de 10% dos casais que apresentam infertilidade não manifestam causa física (Esterilidade Sem Causa Aparente — ESCA) e, parece que, este número vem decrescendo à medida que a medicina reprodutiva avança. Cientistas acreditam que a relação entre estados psíquicos e funções fisiológicas é de enorme complexidade, e que não existe uma simples e direta relação causal.
Pontos de vista
Apesar de muitas opiniões controversas, a maioria dos psicanalistas acredita que o principal motivo da infertilidade esteja relacionado a fatores ligados à sexualidade.
Para as pesquisadoras e psicanalistas que se debruçam no tema, Dinorah Pines e Marie Langer, de acordo com a publicação de estudos da também psicanalista Marina Ribeiro, o fato de o estado psicológico interferir na fertilidade é a consequência de conflitos inconscientes ligados à sexualidade, a fixação na figura materna, podendo gerar sentimentos de ambivalência e culpa diante da maternidade.
A psicanalista Joice Mc Dougall tem a mesma opinião ao afirmar que a impossibilidade de conceber um filho esteja ligada a conflitos na sexualidade nas áreas mais primárias de nossa mente, como a relação com a mãe e o desenvolvimento da sexualidade, aquilo que o psicanalista Sigmund Freud chamou de “Complexo de Édipo” — período sexual que ocorre na segunda infância, em que a criança percebe a diferença de sexos e tende a fixar a atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto do ambiente familiar.
Outro estudioso citado na obra de Marina Ribeiro, L. Applegarth, afirma que a teoria da infertilidade psicogênica seria praticamente insustentável. Para ele, as sequelas psicológicas da vivência da infertilidade estão relacionadas ao impacto na identidade e na sexualidade, e ainda ao estresse que pode alterar funções fisiológicas e inclusive as ligadas à fertilidade, podendo desta maneira formar um círculo vicioso que se retroalimentaria.
Como sobreviver
Quando falamos de causas psicológicas sobre um determinado problema, nunca podemos deixar de pensar na singularidade de cada indivíduo e de cada história. Não se pode generalizar a situação, é preciso identificar as características e problemas de cada paciente para entender a origem e o tratamento, quando possível. O maior desafio tanto da Medicina da Reprodução Assistida como da Psicanálise é apresentar aos pacientes a melhor forma de conviver com o conflito, superar e encontrar alternativas para se viver bem e ser feliz.
Para nós da Fertivro, o mais importante é poder oferecer recursos psicológicos aliados a um ambiente acolhedor que auxiliarão os casais, em sua singularidade, buscarem o seu mais precioso sonho.
* Ana Rosa Detilio Monaco é psicóloga da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana
Informações sobre reprodução assistida em www.fertivitro.com.br