Aspectos psicológicos dos pacientes são identificados como possíveis causas da falta de fertilidade
Por Ana Rosa Detilio Monaco*
A cada dia, novos procedimentos sofisticados de tratamento estão disponíveis com várias finalidades, com modernas tecnologias a nosso serviço. A reprodução humana tem se valido muito deste percurso de evolução e, cada vez mais, seu desenvolvimento é nítido, pois muitos bebês têm chegado ao mundo devido a esse progresso.
Novas formas de procriação e de pensar se incorporam ao nosso cotidiano, o que nos permite ficar a vontade com tais evoluções e não mais nos espantarmos quando sabemos que um bebê é de proveta (formado a partir da fertilização in vitro), por exemplo. Porém, apesar dos avanços científico e tecnológico, uma questão continua presente: a relação da infertilidade com as questões que compõem o psiquismo — conjunto dos fenômenos ou dos processos mentais conscientes ou inconscientes de um indivíduo.
Infertilidade e a psique
Eu acredito que a falta da gravidez pode estar associada a alguma questão psicológica. Claro que, para a Psicologia, é mais complexo afirmar por ser uma ciência subjetiva, mas diante de alguns casos dos quais me deparo no consultório, a relação entre a fertilidade e o perfil psicológico do paciente me parece ficar muito evidente.
Qualquer pessoa é capaz de identificar quais situações de estresse se mostram evidentes no corpo, como dores nas costas, de cabeça, no estômago, a gastrite, bastante reconhecida como uma inflamação relacionada ao emocional; e até o vitiligo, uma afecção incurável que causa manchas na pele. A realidade é que parece inevitável separar o corpo da mente, como se ambos agissem individualmente. O fato de o ser humano não conhecer intimamente o seu psiquismo, questão que vem sendo estudada pela Psicologia desde sua existência, é a maior prova de que corpo e mente caminham juntos.
Em meados de 1950, entendia-se a infertilidade como sendo uma doença decorrente de aspectos emocionais. A partir da evolução da medicina, entre as décadas de 60 e 70, ao adotar o uso do anticoncepcional e de exames de imagem, a infertilidade passou a ser analisada e tratada com medicamentos, sendo entendida como um acontecimento unicamente físico.
Uma parte da literatura psicanalítica defende que a infertilidade pode estar relacionada a conflitos inconscientes e, principalmente, à sexualidade, ou por afetos ambivalentes à maternidade e ainda conflitos provindos do Complexo de Édipo — conceito criado pelo psicanalista Sigmund Freud que revela o comportamento da criança quando atinge o período sexual, na segunda infância, e percebe a diferença dos sexos, o que a faz tender a libido às pessoas do sexo oposto dentro da própria família.
Alguns autores apontam que muitas mulheres inférteis relacionam-se de forma conflituosa e frustrante com suas mães, portanto, o fracasso em engravidar poderia ter a sua origem numa precoce relação materna insatisfatória, podendo estes conflitos se apresentar conscientes e inconscientemente, ou seja, a necessária identificação com a figura materna não pôde ser completamente concebida. Portanto, algumas pacientes poderiam não ter amadurecido emocionalmente da maneira adequada, por viverem falhas em seu desenvolvimento psicológico, prejudicando a futura imagem da maternidade em suas vidas.
Em minha experiência, algo neste sentido parece realmente fazer sentido, principalmente em casos em que a causa da infertilidade não se revela aparente, o que a reprodução assistida compreende como ISCA (infertilidade sem causa aparente). Isso se dá de diferentes intensidades e de formas muito individuais.
No meu entender, muitas questões no sentido de compreender o psiquismo dos pacientes são fundamentais, porque se eles conseguirem conhecer o seu íntimo por inteiro, isso pode ser indispensável para concretizarem o desejo de ter um filho.
Outros fatores
Também não é possível descartar a mudança do papel e lugar da mulher na sociedade, e o novo local que o homem passa a ocupar. Hoje poucas são as mulheres que têm como objetivo de vida a maternidade. Para a maioria, ser mãe pode fazer parte dos planos, mas não é algo primordial. Esse poder de controlar o momento desejado de ter um filho, algo que não seja mais o foco como na época de suas mães e avós, transforma a relação com a maternidade, fato que gera a necessidade de reconstruir o percurso diante desse tema. Outra questão é que, pelo fato de estarmos diante de novos tempos, em que surgem conceitos e, consequentemente, conflitos, é preciso entender o que ocorre e rever opiniões. Como por exemplo, a independência feminina ao poder engravidar sem a necessidade de um homem para conceber, porque há banco de sêmen para tal finalidade.
Considera-se ainda que a infertilidade seja a grande geradora de conflitos, que podem alterar funções fisiológicas, inclusive as relacionadas à falta de fertilidade, o que se forma um ciclo vicioso.
Solução
Não há uma explicação lógica ou uma solução prática para eliminar todos os problemas de infertilidade, ou encontrar a cura, mas a psicanálise tem um importante papel no processo de diagnóstico e de tratamento, para identificar hipóteses emocionais que possam vir a impedir a gestação. A indicação é focar nos prejuízos que tais vivências podem ter gerado na vida dos envolvidos, e modificar esta realidade a fim de amenizar possíveis desajustes e prejuízos.
Saliento que a individualidade de cada caso nunca pode ser negligenciada, pois vivemos como podemos e com os recursos que temos. O objetivo da Psicologia é ampliar este terreno para enfrentar as diversidades que surgem. No aspecto psicólogo, isto é possível.
* Ana Rosa Detilio Monaco é psicóloga da Fertivitro — Centro de Reprodução Humana.
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